Previna-se contra as dermatites

Previna-se contra as dermatites

Por: Vanessa Navarro

Estudos apontam um índice considerável de profissionais de saúde que sofrem com algum tipo de problema dermatológico em seu ambiente de trabalho.

Na área da saúde, a dermatose ocupacional é muito comum e mais frequente nas mãos. De acordo com a dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD), Flavia Lage, a dermatite de contato alérgica é causada por materiais de trabalho, como luvas, metais, resinas epóxi e acrílicas, e por outros químicos, por exemplo, agentes de desinfecção para higiene, além de medicamentos que também podem ser irritantes.

“A urticária pelo látex das luvas não é rara, e os aditivos da vulcanização da borracha das luvas têm sido considerados como os sensibilizantes mais comuns nos profissionais de saúde”, esclarece a dermatologista.

Dentre os profissionais de saúde, os mais suscetíveis são os enfermeiros e membros de equipes de centro cirúrgico, seguidos dos dentistas. Estima-se que 5 a 10% desses profissionais sejam alérgicos ao látex.

Dermatites no consultório odontológico

De acordo com a especialista, uma infinidade de materiais com potencial alergênico é utilizada diariamente nos consultórios odontológicos.

Flavia Lage explica que a dermatite de contato por irritante primário corresponde a 80% dos casos de dermatite de contato. Em geral é provocada pelo contato com substâncias alcalinas ou ácidas fracas que produzem lesão na camada córnea, com aumento da permeabilidade e entrada de produtos que lesam os ceratinócitos, surgindo posteriormente, reação inflamatória na derme papilar. “Caracteriza-se por eritema, descamação e, por vezes, vesículas e bolhas que surgem horas depois do contato com agentes irritantes mais fortes ou depois de semanas de contato continuado com agentes irritantes mais fracos. O prurido é discreto ou ausente, sendo substituído por sensação de dor e queimação. Os agentes irritantes incluem saponáceos, detergentes químicos, agentes adesivos, germicidas, óleos essenciais, materiais de manipulação, solventes orgânicos e produtos químicos utilizados no processamento de radiografias”.

A urticária de contato ao látex da borracha natural é uma reação do tipo I de Gell e Coombs, mediada pela IgE, manifestando-se geralmente uma hora após a exposição a essa substância. “As manifestações clínicas dependem da via de exposição e, no caso dos dentistas, o mais comum é a via cutânea, sendo assim, apresenta-se como urticária, dermatite e prurido. O látex causa menos frequentemente dermatite de contato imunológica e por irritante primário. O eczema de contato, que pode ocorrer, é provocado com mais frequência pelos aditivos empregados na fabricação da borracha do que pelos diversos alergênicos que compõem o látex”, enfatiza a dermatologista.

Já a dermatite de contato alérgica é um exemplo de hipersensibilidade do tipo IV de Gell e Coombs, que é a hipersensibilidade retardada ou mediada por células. Segundo informações da especialista, o tempo desse processo será de poucos dias para alergênicos de alto poder sensibilizante, podendo levar anos para outros antígenos. A hipersensibilidade adquirida persiste por toda a vida, embora possa ocorrer o desenvolvimento de tolerância com a exposição continuada, havendo cura. “Alguns exemplos de substâncias contactantes são bicloreto de mercúrio e dicromato de potássio, o primeiro usado na amálgama e cimentos dentários e, o segundo para esterilização de instrumentos cirúrgicos”.

Prevenção e controle das dermatites

Por ser um fato corriqueiro em muitos consultórios odontológicos, os dentistas costumam se automedicar e não procuram a ajuda médica qualificada. A dermatologista Flavia Lage explica que, se não cuidadas da maneira correta pelo profissional qualificado, as situações das alergias podem se agravar. “A orientação e o tratamento adequados são importantes para evitar o desconforto, possíveis infecções secundárias, que podem culminar com a piora do quadro, levando até mesmo ao afastamento temporário de suas atividades profissionais.  A conduta terapêutica depende do tipo de afecção, da fase e da extensão do quadro, podendo variar de banhos ou compressas com soluções antissépticas, uso tópico de corticoides e imunomoduladores, até o uso sistêmico de anti-histamínicos”.

Quando a alergia é causada pela luva, EPI indispensável no tratamento odontológico, o cirurgião-dentista precisa estar atento aos cuidados necessários para garantir a sua saúde e o seu bem-estar.

Flavia Lage informa que a alergia ao látex da borracha natural afeta pessoas expostas rotineiramente aos produtos feitos com borracha natural, que são obtidos da árvore Hevea brasiliensis. Os grupos de maior risco são os profissionais de saúde, trabalhadores da indústria da borracha e pessoas submetidas a múltiplos procedimentos cirúrgicos. “No caso dos cirurgiões-dentistas, a alergia ao látex pode ocorrer sob a forma de dermatite de contato ou como reação do tipo anafilática”.

A alergia ao látex pode se manifestar de formas variadas:

  • Dermatite de contato irritativa, que resulta da ação direta da borracha sobre a pele, que se torna ressecada e irritada. Pode ser amplificada pelo uso de sabões, umidade e pelo talco das luvas.
  • Dermatite de contato por mecanismo alérgico imunológico, gerando eczema no local de contato com as luvas.
  • Reação de sensibilidade às proteínas do látex, podendo ocorrer contato com a pele ou pela inalação de partículas de proteína transportadas pelo ar pelo pó das luvas. Neste caso, pode gerar sintomas variados, cutâneos, respiratórios, oculares ou até mesmo um quadro anafilático. A substituição das luvas de borracha natural por luvas à base de elastômero ou luvas de vinil pode ser de grande valia.

Os testes de contato são a prova mais eficiente para confirmar o diagnóstico e encontrar a etiologia da dermatite de contato. Os bons resultados dependem da indicação correta do grupo de substâncias, da técnica de aplicação e da interpretação dos resultados obtidos na leitura do teste epicutâneo. “O mecanismo etiopatogênico dos testes de contato é o mesmo da dermatite alérgica de contato. Supondo-se que o paciente já tenha entrado em contato com determinado antígeno, a colocação em uma parte do corpo da substância que se suspeita ser o agente etiológico da dermatite de contato induz a formação da via eferente da dermatite alérgica de contato, produzindo no local do teste epicutâneo, lesão clínica de aspecto eczematoso. Assim, os testes epicutâneos são indicados na investigação de dermatite alérgica de contato”, instrui a dermatologista. “Na dermatite de contato por irritação primária, os testes são negativos, já que para este tipo de dermatite de contato não existe mecanismo imunológico envolvido”, completa.

A dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica, Flavia Lage, apresenta alguns dos cuidados que devem ser tomados pelo profissional de saúde bucal para evitar possíveis desconfortos causados pelas dermatites.

  • Evite o contato com substâncias contactantes.
  • Prefira sabões neutros.
  • Faça uso regular de hidratantes que visam restaurar a integridade de barreira da pele, impedindo a perda transepidérmica de água.  Algumas formulações contendo silicone formam uma camada protetora, que impede o contato direto com o contactante.
  • Substitua as luvas de látex por luvas à base de elastômero, que apesar de mais caras, são capazes de protegê-lo do sangue adequadamente. As luvas de vinil não são tão caras e servem para realização de exames de mucosas. Luvas duplas de vinil proporcionam a proteção adequada.

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