Perfil – Alexandre de Alcântara

Perfil – Alexandre de Alcântara

Nos últimos 20 anos, o cirurgião-dentista Alexandre de Alcântara se tornou referência no mundo da música, em especial entre os instrumentistas de sopro – trompetistas, saxofonistas, oboístas, flautistas, tubistas, trombonistas, entre outros.

Conhecido e reconhecido como o dentista dos músicos, além de tratá-los de forma diferenciada, Alexandre busca, junto com cada paciente, compreender e descobrir a melhor maneira de atendimento.

Além de defender o atendimento especial para músicos e cantores nas cadeiras de dentistas do mundo todo, o cirurgião-dentista trabalha incessantemente para que a saúde desses profissionais ganhe mais atenção em todas as especialidades médicas.

Sua atuação na área resultou em várias conquistas, entre elas, a de 2012, quando o Conselho Federal de Odontologia emitiu o parecer reconhecendo o músico de sopro como um paciente especial.

Conheça um pouco mais da história do cirurgião-dentista dos músicos que faz muito sucesso entre os instrumentistas de sopro de todo o mundo.


Local Odonto –
Como, quando e por que o senhor decidiu estudar Odontologia?
Alexandre de Alcântara – Quando cursava o antigo ginásio, um amigo me falou que iria se transferir para o Colégio Bandeirantes, em São Paulo, e me incentivou a fazer o mesmo.
Porém, era preciso, para ingressar no colégio, escolher a área de preferência, entre exatas, humanas e biológicas. Na época, o colégio dava mais ênfase ao ensino de matérias das mencionadas áreas, buscando que o aluno tivesse um desempenho melhor nos vestibulares e conseguisse ingressar nas melhores faculdades.
Eu precisei decidir, então, em qual área iria atuar. Sempre gostei de Biologia, e me interessava por profissões onde eu pudesse ter um negócio próprio, como uma clínica, ou um consultório. Analisando as profissões, encontrei a que mais me agradava e a que eu melhor me encaixaria, era a Odontologia.
Terminei o colegial no Bandeirantes, sempre focando na Odontologia como a minha futura profissão.
Minha família nunca interferiu nas minhas escolhas, sempre me apoiou em todas elas.  Posso afirmar que a certeza de estudar Odontologia aconteceu entre os anos de 1986 e 1988.
Escolhi a Odontologia pela independência que eu acreditava e acredito que ela dá. São poucas as profissões em que você pode ser o responsável por todas as etapas.
Gostava também da ideia de ter autonomia dos horários, de ter o controle da minha agenda. Além disso, apreciava a ideia de fazer com que as pessoas pudessem se alimentar adequadamente. Cresci vendo pessoas com próteses totais e com dificuldade de se alimentar. Isso me incomodava muito.
E depois, já na UNICID, onde me graduei, veio a certeza de que fiz a melhor escolha.


saxofoneLocal Odonto –
O que o levou a se especializar em Pacientes com Necessidade Especiais com a atenção voltada aos músico sopro-instrumentista?
Alexandre de Alcântara – Pouco tempo após graduar, comecei a receber músicos de sopro em meu consultório. Eles me procuravam, pois tinham muita confiança no meu pai, que é saxofonista, e no meu tio, que é trompetista. Acreditavam que, por ser filho de músico, talvez eu os veria de uma forma diferente.
Com as queixas apresentadas, fui adaptando o tratamento, usando sempre o que tinha aprendido e aprendia com a Odontologia, na tentativa de atender todas as necessidades.
É importante dizer que nem sempre foi um sucesso. Hoje, seguramente, eu faria muitos atendimentos de forma diferente. Mas faz parte, e tenho ciência de que o importante é tentar melhorar, melhorar sempre.
Vi, com o passar dos anos, que poderia levar ao conhecimento do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) e do Conselho Federal de Odontologia (CFO) a importância de tal atendimento.
Encaminhei, com a ajuda do CROSP, uma proposta ao CFO sobre a criação de especialidade e, após análise do documento e com aprovação por unanimidade, os representantes do conselho consideraram que o músico de sopro era um paciente com necessidade especial e que não era necessário criar uma nova especialidade, já que a mesma já existia e atendia aos requisitos que eu apresentara.
E foi assim que nasceu essa nova área de atuação. Apenas apresentei os músicos e suas necessidades à Odontologia; e ela, representada pelos conselheiros do CFO, entendeu que eles pertenciam ao segmento de “pacientes com necessidades especiais”.


Local Odonto –
O senhor é o responsável pelo parecer que o Conselho Federal de Odontologia emitiu em 2012, que entendeu que o músico de sopro requer cuidados especiais em seu atendimento. Como o senhor se sente com essa conquista tão importante?
Alexandre de Alcântara – Eu me sinto honrado e gratificado.
Quando a gente sai da faculdade, a busca é pela estabilidade profissional, pela construção de carreira. Queremos fidelizar pacientes e atender da melhor maneira possível.
Nunca passou pela minha cabeça que eu pudesse trazer um reconhecimento do Conselho Federal de Odontologia – e da Odontologia como um todo – para uma classe trabalhadora tão importante, como a dos músicos de sopro.
É como mostrar para duas pessoas que já se conhecem – a música e Odontologia – o que uma pode fazer pela outra.
É muito gratificante saber que, devido a este parecer, os músicos e cantores serão mais bem assistidos no futuro, pelas atuais e novas gerações de cirurgiões-dentistas. Fico muito feliz em mostrar um novo mercado para os colegas que estão em fase de graduação, trazendo um novo campo de pesquisas, inclusive para outros países.
Realmente é difícil descrever essa sensação. É uma impressão de dever cumprido, de deixar um legado e de que tenho muito ainda por fazer pelos dois lados. Isso me deixa muito feliz, certamente.


Local Odonto –
Qual é o conselho que o senhor dá para os profissionais de saúde bucal que desejam se especializar no atendimento ao músico sopro-instrumentista?
Alexandre de Alcântara – Eu aconselho a observar e entender, não só o músico sopro-instrumentista, mas também os cantores, os artistas, os dubladores, os locutores e outros profissionais que têm as estruturas bucofaciais como auxiliares na sua profissão. Procure estudar a fisiologia desse paciente.
A graduação em Odontologia dará totais condições para atender esses pacientes com a qualidade que merecem. E é imperativo continuar se aprimorando nas atualizações e cursos odontológicos. São eles que darão as ferramentas para o atendimento destes profissionais. O complemento para o nosso trabalho está no paciente e no que o envolve.
Não é preciso estudar música, mas é preciso saber diferenciar um trompetista de um trompista, uma tuba de um trombone, etc.; e entender os movimentos musculares e mandibulares envolvidos no exercício da profissão.
Um dos motivos pelo qual o paciente músico de sopro não foi classificado na Odontologia Ocupacional, mas sim na de Pacientes com Necessidades Especiais, é que o músico geralmente inicia sua profissão na infância, por volta dos sete anos, e só para quando não tem condições físicas para tocar o instrumento. Isso significa que a Odontologia pode atendê-lo da Odontopediatria até a Odontogeriatria, passando por todas as especialidades.

Mais sobre Alexandre de Alcântara

O especialista em pacientes com necessidades especiais é autor do livro “Odontologia para Músicos de Sopro” e coautor das obras “Saúde para Músicos” e “O Cirurgião-Dentista frente à AIDS”.

Alexandre de Alcântara se tornou referência da área, cuidando de pessoas de várias partes do país e da América Latina que atuam em importantes bandas e orquestras.

Alcântara participou também de uma equipe multidisciplinar de especialistas médicos preocupados com a saúde de artistas. Publicou casos clínicos e estudos em revistas internacionais, como Pinnacle Medicine & Medical Sciences (África e Oriente Médio), Trumpetland (Espanha), International Trumpet Guild (ITG, Estados Unidos) e International Horn Society (IHS).

Suas postagens nas páginas do Facebook, entre elas “Odontologia de músicos de sopro”, chegam a ter até mais de 130 mil visualizações, algumas já ultrapassaram meio milhão de visualizações, o que mostra o interesse do público pela área.

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