Fratura vertical radicular: o que o clínico deve saber

Fratura vertical radicular: o que o clínico deve saber

A fratura vertical radicular é uma patologia difícil de ser diagnosticada, e que põe em risco a previsibilidade da terapia endodôntica. Caracteriza-se por uma trinca com orientação longitudinal, que se estende do interior do canal até o periodonto, podendo estar localizada em qualquer porção da raiz.

Procedimentos odontológicos que provocam desgaste excessivo da estrutura radicular do dente e manobras que induzem à concentração de estresse exagerado na raiz são os fatores etiológicos mais frequentemente associados à fratura vertical radicular ¹.

A fratura vertical radicular (FVR) pode ocorrer em qualquer grupamento dental, porém, os dentes mais susceptíveis à fratura são os com achatamento da raiz no sentido mésio-distal, por exemplo, os pré-molares superiores e as raízes mesiais de molares inferiores².

A frequência com que esta patologia ocorre é maior em dentes posteriores endodonticamente tratados, em pacientes na faixa etária entre 45 e 60 anos. E o tempo médio decorrido entre o tratamento endodôntico e o diagnóstico de FVR é de aproximadamente 10 anos³.

Os sinais e sintomas clínicos e radiográficos presentes com maior frequência em casos de FVR são: pericementite e dor à mastigação, lesões apicais e laterais, bolsas periodontais, presença de edemas e fístulas. Entretanto, essas observações também são comuns em casos de insucesso do tratamento endodôntico e problemas periodontais3-4.

Diferentes métodos de diagnóstico têm sido propostos para auxiliar no reconhecimento desta patologia, sendo mais utilizados os testes com corantes e o uso de transiluminadores com resultados variáveis.

Mais recentemente, a magnificação e iluminação do campo operatório se mostraram muito eficaz para a visualização de tênues linhas de fratura, observadas por meio da inspeção intrarradicular, e também durante a cirurgia exploratória5.

A visualização de linhas de fratura em radiografias periapicais é muito rara, a menos que os fragmentos estejam totalmente separados. Um sinal radiográfico bastante recorrente é o aumento do espaço periodontal lateral e também lesões ósseas laterais.

A tomografia computadorizada cone bean é uma nova ferramenta utilizada para auxiliar no diagnóstico em Endodontia. Este recurso tecnológico permite ao cirurgião-dentista avaliar a área de interesse em três dimensões, eliminando a interposição de estruturas anatômicas adjacentes6. Mesmo em tomografia, a linha de fratura nem sempre é detectada, porém, o padrão de destruição óssea observado tridimensionalmente pode ser um importante fator indicativo da fratura vertical radicular.

Alguns protocolos são propostos na literatura para tratamento de dentes com FVR, tais como: limpeza da fratura com ultrassom e colagem do fragmento com uso de ionômero de vidro ou outros cimentos, ou de membranas na tentativa de estabelecer uma nova adesão do periodonto e o fusionamento da raiz utilizando lasers. Porém, o prognóstico destes tratamentos é duvidoso e com pouca previsibilidade7-8.

Dessa forma, concluo essa coluna de apresentação dos sinais e sintomas recorrentes nos casos de fratura vertical da raiz, com o objetivo de ajudar o clínico a suspeitar de sua presença, procurá-la e conseguir estabelecer o diagnóstico dessa patologia.

Referências bibliográficas

  1. Zuolo ML, Kherlakian D, Mello Jr JE, Carvalho MCC, Fagundes MIRC. Reintervenção em Endodontia, 1ª edição São Paulo, editora Santos, 2009.
  2. T amse, A., Z. Fuss, et al. “Radiographic features of vertically fractured, endodontically treated maxillary premolars.” Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 88(3): 348-52, 1999.
  3. Testori, T., M. Badino, et al.. “Vertical root fractures in endodontically treated teeth: a clinical survey of 36 cases.” J Endod 19(2): 87-91, 1993.
  4. Moule, A. J. and B. Kahler. “Diagnosis and management of teeth with vertical root fractures.”Aust Dent J 44(2): 75-87, 1999.
  5. Zuolo,M.L., Mello Jr. J.E., Reggiani, D. “Clinical signs and symptoms related to vertical root fracture (VRF): a case series with 203 teeth.” Ver. Assoc. Paul. Cir. Dent;63(4):288-293, jul.-ago.2009.
  6. Cotton, T. P., T. M. Geisler, et al. “Endodontic applications of cone-beam volumetric tomography.”J Endod 33(9): 1121-32, 2007.
  7. Arakawa, S., C. M. Cobb, et al. “Treatment of root fracture by CO2 and Nd:YAG lasers: an in vitro study.” J Endod 22(12): 662-7, 1996.
  8.  Selden, H. S. “Repair of incomplete vertical root fractures in endodontically treated teeth-in vivo trials.” J Endod 22(8): 426-9, 1996.

stella okStella Ganassim Palhares
Cirurgiã-dentista. Especialista em Endodontia. Especialista em Dentística Estética. Diretora administrativa da DS Oral Odontologia Avançada.

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