Fissuras labiopalatinas: o que saber e como proceder

Fissuras labiopalatinas: o que saber e como proceder

Presentes ao nascimento, as fissuras labiopalatinas são deformidades congênitas que comprometem o terço médio da face. Podem acometer lábio, rebordo alveolar, palato duro e palato mole. Representam uma das malformações congênitas de maior prevalência no homem, sendo aproximadamente de 1:1000 nativivos, em índices gerais e mundiais.

A incidência das fissuras labiopalatinas está relacionada a diversas características, como raça, gênero e extensão da fenda. A raça amarela é a que apresenta maior incidência, seguida pela branca, e depois pela negra.

O gênero predominante é o masculino, cerca de 60%. As fissuras de lábio e as de lábio e palato são mais presentes no gênero masculino, e as fissuras de palato no gênero feminino. A incidência de fissuras de lábio e palato associadas, quando comparadas às fissuras isoladas de lábio ou de palato, é maior. Já as fissuras de palato se sobrepõem as de lábio, bem como as fissuras unilaterais se sobrepõem às bilaterais. O lado esquerdo prevalece em dobro ao lado direito.

Quando se observa a reabilitação do paciente acometido da fissura labiopalatina, uma equipe multidisciplinar de profissionais da saúde deve acompanhá-lo, como neonatologista, pediatra, cirurgião-plástico, cirurgião-dentista, otorrinolaringologista, fonoaudiólogo, psicólogo, assistente social, nutricionista, entre outras especialidades. A equipe deve ser composta por profissionais capazes e calibrados no protocolo de atendimento estabelecido para essa anomalia.

A documentação detalhada do caso deve estar sempre em ordem, para que estudos retrospectivos e prospectivos possam ser executados a qualquer momento, na intenção de aprimorar a reabilitação.

A atuação de cada área específica é contemplada em determinados momentos da vida do paciente, já que tem início ao nascimento e se encerra na idade adulta. Por exemplo, o tratamento odontológico precoce é instituído logo ao nascimento e se baseia na orientação aos pais quanto à necessidade da promoção da saúde oral, determinando a importância da integridade dos elementos dentais.

Recomenda-se que a higiene bucal seja introduzida quando o bebê deixa a maternidade, por meio de gaze umedecida em água filtrada, fervida e fria, pelo menos uma vez ao dia, evitando que os resíduos do leite permaneçam nas regiões retentivas da fissura, o que poderia facilitar o acúmulo de bactérias e até causar estomatites severas.

Quando da erupção da dentição decídua, a escovação dental deve ser estabelecida com o auxílio de dedeiras e escovas dentais próprias para a idade.

A alimentação do bebê fissurado deve ser estimulada, e para a melhora da sucção e deglutição, deve ser oferecida com uma frequência maior e observada a posição ereta da criança. Tal ação estimula o equilíbrio e o desenvolvimento muscular e ósseo do complexo estomatognático.

A introdução de alimentação de consistência pastosa, semissólida e sólida deve acompanhar a indicação do pediatra, contribuindo assim para o desenvolvimento dos processos maxilares, estímulo proprioceptivo da cavidade oral e maturação do processo mastigatório.

Deve-se evitar adição de açúcar ao leite, sucos ou frutas no intuito de preservar a integridade do dente decíduo. Também deve-se observar que hábitos parafuncionais não sejam estabelecidos, como sucção de dedo, chupeta e mamadeira, por exemplo.

O cirurgião-dentista deve acompanhar o paciente fissurado em todas as fases de tratamento e crescimento, pois, em um dado momento, a Ortopedia e a Ortodontia se farão necessárias. A indicação de uso de prótese e de qualquer dispositivo intraoral que melhorar a qualidade de vida deste paciente deve ser considerada e aplicada.


Dr. ReinaldoReinaldo Brito e Dias
Cirurgião-dentista. Chefe e Professor Titular do Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilofaciais da FOUSP. Professor Responsável pela Disciplina de Prótese Bucomaxilofacial da FOUSP. Professor Responsável pela Área de Concentração de Prótese Bucomaxilofacial do Programa de Pós-Graduação da FOUSP. Presidente da Câmara Técnica de Prótese Bucomaxilofacial do CROSP. Presidente do Conselho Curador da FFO Fundecto. Membro da Academy of Dentistry International. 

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