A arquitetura como aliada do dentista

A arquitetura como aliada do dentista

Por: Vanessa Navarro

A chamada Arquitetura Humanizada nasceu da necessidade de se criar ambientes que respeitassem os desejos e as expectativas dos usuários. Não bastava mais que a arquitetura fosse bela, era necessário que ela se tornasse também funcional e aconchegante. Segundo a arquiteta especializada em projetos na área da saúde, Suelena Morais, a humanização da arquitetura é importante em todos as construções, mas torna-se imprescindível na criação de um projeto na área da saúde. “Isso porque quando precisamos ir a um hospital, a uma clínica médica ou odontológica, estamos nos sentindo mais vulneráveis e mais temerosos, por vários motivos. Nesse momento de fragilidade é importante que o ambiente nos seja familiar, acolhedor e agradável, criando uma sensação inconsciente de que somos bem-vindos. Essa sensação pode nos ajudar muito, na medida em que nos deixa mais tranquilos”, explica.

Nas clínicas odontológicas é muito comum que existam clientes que sintam medo de determinados procedimentos, ou seja, são vítimas da chamada odontofobia. Suelena defende que, qualquer que seja o nível de ansiedade apresentada pelo cliente, uma arquitetura humanizada unida a um atendimento diferenciado pode fazer toda a diferença para deixa-lo mais tranquilo e diminuir seu nível de estresse. “Temos testado conceitos simples de humanização, os quais que têm apresentado excelentes retornos. Alguns clientes comentam que sentem, ao habitarem os ambientes projetados usando a humanização, que cada detalhe foi pensado para que se sentissem bem ali”.

Para dar início a um projeto humanizado, é necessário, antes de qualquer conceito, analisar o perfil do cliente. É preciso exercitar o “sentir com a pele” desse cliente e, a partir daí, começar a definir como será a decoração. “Assim teremos clínicas que serão espaços aconchegantes, que minimizam a ansiedade e que ajudam os profissionais na conquista dos clientes. Aliás, quando o ambiente é agradável e aconchegante, o próprio dentista passa a trabalhar com mais prazer. É um círculo virtuoso: o dentista trabalha mais satisfeito, o cliente se sente bem recebido, fica mais receptivo ao tratamento e passa a indicar mais o serviço para os amigos, o que deixa o dentista ainda mais satisfeito”, comenta a arquiteta, que também é consultora e professora do “MBA Compacto de gestão e mercado” para profissionais da saúde do Grupo Caproni e do curso de “Gestão e Marketing” do Grupo Gioso. “É esse o objetivo da humanização: deixar o dentista e os clientes mais felizes”, completa.

Vale lembrar que não existe uma receita de arquitetura humanizada que seja aplicada a todos os consultórios, afinal, cada caso é um caso. É importante reforçar que toda a prática depende de uma análise minuciosa do perfil do público-alvo, e isso vai muito além de cada especialidade odontológica.

Conheça algumas dicas de gestão baseada na arquitetura humanizada, cedidas pela especialista Suelena Morais, e que podem ser aplicadas no âmbito odontológico.

Odontopediatria

  • Utilizar bastante cores e detalhes lúdicos na decoração, que possam ser “descobertos” pelas crianças e que possam ser usados pelas mães sempre que precisarem entreter a criança.
  • Pode ser interessante ter um sanitário infantil, feito na escala das crianças.
    Um fraldário, não apenas uma bancada para troca de fraldas, mas também tudo que a mãe pode precisar nesse momento. Claro que isso depende da cultura do cliente.
  • Preparar um ambiente para as crianças na espera. Este espaço, de preferência, deve ficar longe da entrada da clínica, para deixar as mães mais tranquilas.
  • No consultório, garantir que haja um local para entreter a criança enquanto o dentista conversa com a mãe (ou responsável). Pode ser uma pequena bancada com brinquedos, que pode servir também para entreter um irmão enquanto o outro é atendido.
  • Ter um local para a mãe ficar enquanto o filho é atendido, com revistas que ela possa ler e passar o tempo.
  • Ter detalhes no teto da sala clínica que possam chamar a atenção das crianças, caso seja necessário, ou algo bem especial na decoração, ou seja, algo que possa ser utilizado para conquista-las se ficarem com medo.

Odontogeriatria

  • É importantíssimo cuidar dos tipos de cadeiras e poltronas que serão colocadas na espera. As poltronas precisam ser confortáveis e firmes, para não afundar quando o cliente se sentar (e ter dificuldade de se levantar).
  • É preciso ter pelo menos um assento para obesos, que não tenha laterais, pois podem limitar o movimento.
  • Não ter tapetes em área de circulação, pois podem causar quedas.
  • Criar na espera um ambiente aconchegante, que lembre uma sala de estar. É necessário lembrar que muitos não têm mais uma boa visão. Todas as estratégias pensadas devem levar este ponto em consideração.
  • Possibilitar que na circulação entre os móveis caiba um andador ou uma cadeira de rodas.
  • Não ter escadas no acesso para clínica. É sabido que a vigilância proíbe, mas infelizmente algumas clínicas ainda possuem.
  • Pode ser interessante criar um “cantinho” que remeta à uma época passada, que seja importante para os clientes.

Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais

  • A espera deve propiciar que o cliente possa ficar sentado ou deitado, no colo da mãe ou em cadeira de rodas.
  • Pode ser necessário criar uma sala a parte para dar conforto aos clientes que possuem mais dificuldades, para que fiquem confortavelmente deitados se for preciso aguardar.
  • Permitir que uma parte da copa possa ser usada para guardar ou esquentar a alimentação especial dos clientes, afinal, eles podem ter horários específicos de alimentação por sonda, por exemplo, e, nesse caso, a alimentação precisaria ficar armazenada em geladeira e ser aquecida na hora de usar.
  • Procurar criar ambientes tranquilos e livres de barulhos desnecessários, pois os clientes podem se assustar com facilidade.
  • Ter um fraldário com dimensões um pouco maiores, com todos os mimos citados para a Odontopediatria.
  • Analisar as deficiências que costumam a aparecer e as dificuldades que são causadas para os clientes e seus acompanhantes, buscando sempre dar conforto para esses pacientes tão especiais e para seus pais e/ou responsáveis.“O mais importante, sempre, é observar as dificuldades que o cliente enfrenta nos ambientes das clínicas que já existem. Dificuldades podem ser físicas e/ou psicológicas. Observar também o que eles gostam e elogiam de maneira espontânea. No momento de projetar, procurar manter o que se tem de bom e criar soluções que resolvam, de verdade, o que existe de ruim. Se esse conceito for levado a todos os detalhes importantes do projeto, teremos uma arquitetura realmente humanizada que poderá encantar os clientes”, finaliza a arquiteta, palestrante internacional e diretora da Ambiente Amigo Arquitetura Especializada em Saúde Ltda., onde realizou mais de 550 projetos de clínicas e prestou mais de 3.000 consultorias de ajustes de humanização.

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